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José Mendonça foi o autor da indicação para a homenagem

Por indicação do vereador e presidente da Câmara Municipal, José Mendonça (PDT) foi aprovado por unanimidade o Título de Cidadão Guairense ao músico, escritor e ator Rolando Boldrin.

Rolando Boldrin demonstra carinho com Guaíra

Rolando Boldrin demonstra carinho com Guaíra

Boldrin residiu em Guaíra na sua infância e por várias vezes citou o município como sendo uma referência para a sua formação cultural. É autor da crônica “Guaíra, da primeira viola e da primeira lágrima” do seu primeiro disco.
A homenagem, segundo o presidente da Casa de Leis é justa, pois Rolando Boldrin sempre nutriu um carinho especial pela cidade. “O Rolando Boldrin é um ícone da nossa cultura brasileira e deve ser reverenciado”, frisou Mendonça.
Boldrin, ao tomar conhecimento da homenagem, enviou um E-mail para a Câmara Municipal, agradecendo o reconhecimento e relembrando: “Foi em Guaíra,  onde nadei pelado nos ribeirões, cacei passarinho, brinquei de pião, bolinhas de gude, e tive os primeiros contatos com a música através de auto-falantes (saudoso Lacativa) primeiros ponteios de viola”, relembrou ele.
Para o presidente da Câmara, é preciso homenagear os bons exemplos. “Temos que reverenciar bons exemplos como Rolando Boldrin que não esqueceu suas origens e é um exemplo para as futuras gerações”, frisou ele.
A data da entrega do Título de Cidadão Guairense deverá ser agendada pelo próprio homenageado que destacou: “Estudarei uma data oportuna para juntos comemorarmos a entrega do referido título. Abrace o pessoal da Câmara Municipal e transmita aos guairenses a minha alegria por fazer parte de todos  desta querida terra”.
Histórico
Rolando Boldrin nasceu em São Joaquim da Barra, SP, em 22 de Outubro de 1936, mas veio para Guaíra ainda criança. Aos sete anos, já tocava viola e, aos 12, formando com um irmão a dupla Boy e Formiga, fazia sucesso no rádio de sua cidade. Incentivado pelo pai, resolveu tentar a sorte em São Paulo SP, onde trabalhou como sapateiro, frentista, carregador e garçom, antes de se firmar como artista.
Estreou na carreira musical nos anos de 1960, participando de um disco da cantora Lurdinha Pereira, que logo se tornou sua esposa e produtora de seus discos. Foi pioneiro na realização de programas de televisão dedicados a musica brasileira autentica, de inspiração regional, diferenciada da musica sertaneja de consumo: Som Brasil (TV Globo), Empório Brasil (TV Bandeirantes) e Empório Brasileiro (SBT).
Seu repertório de canções caipiras reúne cateretês, toadas e modas, compondo cuidadosa seleção do que ha de melhor na musica brasileira de enfoque rural. Sua discografia: 0 cantado, 1974; Êta mundo, 1976; Longe de casa, 1978; Rio abaixo, 1979; Rolando Boldrin, 1979; Giro-o-Giro, 1980; Inventando moda, 1980; Caipira, 1981; Poemas do Som Brasil, 1982; Violeiro, 1982 (em dupla com Ranchinho, Cascatinha, Corumbá e outros); Empório Brasileiro, 1984; Clássicos do poema caipira, 1985; Resposta do Jeca Tatu, 1989; Terno de missa, 1989; Emp6rio Brasil, 1990; Perto de casa, 1991; Disco da moda, 1993.
Sintetizou a experiência profissional na realização de “teatros musicados”, espetáculos em que seu personagem se transforma em ator, cantador, poeta, interprete e contador de “causos”: Palavrão, show com a Banda de Pau e Corda (1974), Teatro de quintal (1975), Paia… assada (1987) e Brasil em preto e branco (1993 e 1994) foram consagrados pelo publico e pela critica. No radio, criou o programa Violas de Repente, apresentado na Rádio Jornal de São Paulo (1980 e 1981) e na Rádio Globo (1982). Destacou-se também no cinema, premiado pela APCA por sua participação no filme Doramundo (1978), de João Batista de Andrade. CDs Disco da moda, 1993, RGE 3416012-2; Grandes sucessos de Rolando Boldrin, 1994, RGE 6019-2; Rolando Boldrin, 1994, Continental/Warner 9949030-2 (Coleção Som da Terra).

E-mail de Rolando Boldrin ao presidente José Mendonça

Prezado José Mendonça (Presidente)
Sinto-me honrado pela lembrança de meu nome para esta singela homenagem , outorgando-me o TÍTULO HONORÁRIO DE CIDADÃO  GUAIRENSE.
Você está certo quando escreve que residi em Guaíra e isto sempre me sensibilizou profundamente.
Fato imortalizado numa crônica -“GUAIRA DA PRIMEIRA LÁGRIMA, PRIMEIRA VIOLA”, do meu primeiro disco  de reminiscências (LP) “LONGE DE CASA”- dos anos 70- selo Chantecler (hoje WARNER)
Minha família, composta  do mecânico AMADEU (pai) de ALZIRA (mãe) e de mais 8 crianças “aportamos” nesta hospitaleira cidade nos anos de 1938 (eu tinha 02 aninhos)  e por aí ficamos até 1946, quando com mais 03 crianças (essas, agora Guairenses de nascença) retornamos á São Joaquim da Barra, que era onde eu havia nascido em 36.
A minha sensibilidade ao lembrar esse inesquecível tempo de 08 anos vividos em GUAIRA vem da importância dos meus primeiros sentidos de existência  no mundo
(daí a referida crônica).
Foi em Guaíra,  onde nadei pelado nos ribeirões, cacei passarinho, brinquei de pião, bolinhas de gude, e tive os primeiros contatos com a música através de auto-falantes (saudoso Lacativa) primeiros ponteios de viola. Enfim, os primeiros tempos de uma criança pobre que não conhecia calçados  nos pés, geladeira, fogão á gás e nem…rádio,  e era feliz, vivendo de forma amontoada, numa casinha situada atrás da Prefeitura (como no samba de Ataulfo: Eu era feliz e não sabia).
Pois bem, a lembrança de meu nome para o referido e honroso TÍTULO DE CIDADÃO  GUAIRENSE, através desta casa e de seus integrantes, numa votação que você relata (por unanimidade) só poderia  trazer de volta os meus eternos  sentimentos  de começo de VIDA.

Assim sendo, estudarei uma data oportuna para juntos comemorarmos a entrega do referido TÍTULO. Abrace o pessoal da Câmara Municipal e transmita aos Guairenses a minha alegria por fazer parte de TODOS  desta querida terra.

Atenciosamente,

ROLANDO BOLDRIN

ENTREVISTA

Rolando Boldrin cita Guaíra em suas entrevistas

Rolando Boldrin cita Guaíra em suas entrevistas

Rolando Boldrin cita Guaíra em suas entrevistas

Um “cantadô” e “contadô” de 69 anos, dos quais 46 dedicados à genuína cultura brasileira. Rolando Boldrin é daqueles entrevistados com quem se pode ficar horas proseando. Sétimo filho de uma família de 12 irmãos, nasceu em São Joaquim da Barra, próximo de Ribeirão Preto (SP).

Depois de viver oito anos na vizinha Guaíra, retornou à terra natal, de onde, no final da adolescência, pegou a estrada para tentar a “vida” na capital. Trabalhou de sapateiro, garçom e frentista; prestou o serviço militar e retornou à sua terra. Voltou a São Paulo, onde fez teste em várias rádios. Durante um ano e meio, trabalhou de graça; chegou a passar fome. Hoje, isso é passado, mas seus “causos” não. No rádio, na televisão (TV Cultura de São Paulo), sem acanhamento e com fôlego, vem tirando o Brasil da gaveta!

Quando foi seu primeiro contato com a música de raiz?
Rolando: Em Guaíra, perto de Barretos, havia (e há) muito peão de boiadeiro. Na época era uma cidade muito pequena, com boiadas no meio das ruas de terra. Eu tinha 7 anos, minha família não tinha rádio e as músicas que ouvia naquele tempo vinham do alto-falante, da pracinha, da porta do cinema – só havia um chamado Cine Teatro. Comecei a mexer com viola nessa época, porque toda cidadezinha do interior absorvia a música caipira tradicional, que eles hoje chamam de música de raiz. Eu acho uma bobagem falar música de raiz.

Como chamá-la então?
Rolando: Raiz foi uma denominação que encontraram para dizer que não é a sertaneja, com o que eu não concordo, porque toda música tem alguma raiz. O samba é uma raiz da nossa música; a moda de viola é uma música de raiz. Eu prefiro falar que é uma música autenticamente brasileira, cantada sem influências estrangeiras. Por mais que nós há muito anos soframos interferência.

Quem você ouvia?
Rolando: Naquela época, eram sucesso Noel Rosa, Carmem Miranda, Chico Alves, Orlando Silva, Vicente Celestino, Isaurinha Garcia, Irmãs Batista e Silvio Caldas. Nessa área da música popular brasileira, o que fazia sucesso no Rio de Janeiro se espalhava pelo País. As emissoras cariocas eram uma potência, como a Rádio Nacional, que ficou famosa por revelar grandes astros; a Tamoio, a Tupi. No Interior, essa informação musical chegava para o caipira via rádio e era repassada para os alto-falantes de circo e de parque de diversões.

Como se classifica a música caipira?
Rolando: Eu considero a música caipira também como música popular brasileira. Assimilavam esse lado caipira o Alvarenga e Ranchinho, Jararaca e Ratinho, Barreto e Barroso, Sebastião Arruda, um humorista do Rio de Janeiro que criou aquele tipo caipira antes do Mazzaropi. Um artista que talvez tenha motivado o Mazzaropi a criar o “Jeca”. O Noel Rosa tinha um grupo chamado Bando de Tangarás, que tocava música do norte misturada com música caipira paulista. Essa foi a minha formação musical, via alto-falante.

Quando surgiu a dupla Boy e Formiga?
Rolando: Foi em Guaíra e em São Joaquim, na volta. Era muito comum no Interior cantar música caipira em dupla. Na época faziam sucesso duplas como Alvarenga e Ranchinho, Raul Torres e João Pacífico. Eu já tinha dom para música e cantava sozinho, e o meu irmão aprendeu a fazer dueto. Peguei uma violinha básica de dez cordas e, junto com ele, formamos uma dupla bem rústica.

Durou muito tempo?
Rolando: Fizemos um programa de rádio aos domingos de manhã durante dois ou três anos. Eu tinha entre 11 e 12 anos e ele 14. O auditório do programa lotava, como hoje em meu programa. Mas o meu irmão, quando ficou mocinho, aos 16/17 anos, veio para São Paulo. E eu parti sozinho para outras coisas; sempre misturei muito a música. Eu gostava de Noel, de Cartola, de Alvarenga e Ranchinho.